[XVII Fantaspoa] Este Jogo se Chama Assassinato quase faz valer a máxima do Estilo > Substância
Essa nova onda de cinefilia que valoriza o realismo e a narrativa hegemônica tradicional veio para afundar de vez toda a graça e potencial do cinema vivo, colorido e que não está nem aí para o real. Quantas vezes um filme excelente já não foi crucificado no film twitter porque “não tem história” ou por ser muito “sem pé nem cabeça”?
Felizmente, Este Jogo se Chama Assassinato (2021) é do tipo que não está nem aí, especialmente para essas críticas sonolentas. A começar pelo fato de que a história que liga os elos do filme nada mais é do que um fio tênue — um que se dobra, torce e despedaça ao longo dos 100 minutos de duração. O que o diretor Adam Sherman faz é justamente priorizar Estilo acima de qualquer tipo de substância. É um filme bonito, vistoso e que faz um uso delicioso da iluminação, do design de produção e até mesmo dos figurinos. Tudo isso enquanto ainda se mantém com o viés de uma produção independente e de orçamento bem baixo, o que é destacado na fotografia que, inclusive, é usada para favorecer todas as escolhas visuais do diretor.
Na história, temos uma salada mista de arquétipos e tramas bem comuns que já vimos por aí: a filha de um grande empresário é uma mulher rebelde e curiosa que vive uma vida secreta longe do império criado por sua família. Portanto, ela vai conhecer uma variedade de personagens peculiares enquanto tenta se descobrir e se provar num mundo capitalista, consumista e altamente superficial.
Apesar de tanto, o que faz com que o filme nunca alcance o ápice que almeja, é que as decisões de roteiro não vão longe demais — diferente do estilo. À primeira vista, o filme parece arriscado e ousado, fazendo muitas loucuras com seus personagens e tomando caminhos cada vez mais absurdos. Porém, quando olhamos o quadro geral, não deixa de ser uma clássica história de jornada do herói — ainda que repaginada. E um filme com visual tão surpreendente merecia um roteiro mais ousado, ou, como citei antes, até mesmo roteiro nenhum.
Em determinados momentos, é até possível lembrar da filmografia de Nicolas Winding Refn, nos quais o estilo é primordial e o conteúdo é secundário, basta lembrar de Só Deus Perdoa (2013) e Demônio de Neon (2016). O diferencial é que, os filmes de Nicolas, embarcam do começo ao fim na experiência sinestésica, enquanto o longa de Sherman está sempre freando a “surtada” para te colocar de volta em uma história que, honestamente, é bem qualquer coisa.
Para finalizar, uma menção honrosa ao elenco: não é todo dia que vemos Ron Perlman (o Hellboy original), Natasha Henstridge (protagonista de A Experiência, 1995) e Vanessa Marano (de Switched at Birth, 2011) surtando juntos, e Este Jogo se Chama Assassinato ganha pontos extras por isso.
Este Jogo se Chama Assassinato e muitos outros filmes fazem parte do XVII Fantaspoa, totalmente online e gratuito, disponível na plataforma Wurlak.
THIS GAME’S CALLED MURDER
EUA | 2021 | 106 minutos
Direção: Adam Sherman
Roteiro: Adam Sherman
Elenco: Ron Perlman, Natasha Henstridge, Vanessa Marano, Judson Mills, James Lastovic
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