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Foto do escritorJunno Sena

[Rebobinando] O Pacto e o Homoerotismo do "Jovens Bruxas para garotos"


Sejam bem-vindos ao [Rebobinando], a coluna do Esqueletos no Armário que te levará de volta aos tempos de locadora para tirar a poeira do VHS (ou do DVD) e revisitar alguma obra, seja ela um clássico memorável ou uma pérola esquecida que precisa de um pouco mais de carinho. Chega junto, liga a tv e não se esqueça de rebobinar antes de devolver!


 

Não é novidade que o início dos anos 2000 foi conturbado para o cinema de horror. Com filmes de fotografia sombria, adolescentes interpretados por adultos musculosos e cenas de sexo que beiravam à um “soft porn”, o gênero facilmente se tornou um entretenimento desconfortável para LGBTs, que viam suas identidades ridicularizadas em personagens rasos ou piadas homofóbicas.


Ou pelo menos, às vezes. Dentre essas “pérolas” do cinema trash, com diálogos ruins, storylines confusas e personagens rasos, existe O Pacto. O longa que consegue misturar rock metal, fotografia sombria, homens másculos e poderosos e CGI ruim e ainda assim ser tão queer que chega a ser desconfortável, seja para os LGBTs do início dos anos 2000, seja para os que assistem quase vinte e anos depois de seu lançamento.


Entregando uma breve sinopse, O Pacto, ou The Covenant (2006), segue os moldes de Jovens Bruxas, mas para garotos. Quatro rapazes com corpos sarados de 30 anos, mas com a idade de 17 fazem parte de uma antiga ordem secreta em que, no aniversário de 18 anos, eles ascendem para um poder inimaginável. Mas, ao ascenderem, devem resistir à atração dos poderes ou perecer se usarem de forma irresponsável.


O que parece uma trama óbvia demais, com a presunção de um dos personagens se dizer que: “Harry Potter não é nada comparado a mim"; nos detalhes existe uma subversão no gênero “terror” e “bruxas”. Começando pelo gênero dos personagens. Aqui, diferente das narrativas em que mulheres se deitam com o diabo para conseguir ascender vide Sabrina (2018), A Bruxa (2016), A Maldição do Demônio (1960) , aqui o corpo masculino é receptáculo de um poder desconhecido, mas descendente dos sobreviventes da caça às bruxas.


E talvez, seja essa mesma subversão que faça com que os personagens constantemente se coloquem em tensões sexuais que conseguem incomodar o espectador, ora em desejo, ora em desconforto. E as cenas são inúmeras. Desde o ciúme não explicado de Reid pelo protagonista, até às encaradas e piadas sobre o pênis de um dos rapazes “mortais” da trama.



Por outro lado, ainda existem os interesses amorosos da trama. As duas garotas da história, assim como toda a estética e construção narrativa do filme parecem apenas “tolkiens” para manter a masculinidade dos personagens intactas mesmo que deem tapas na bunda uns dos outros, ou que digam coisas como: “Que tal eu fazer de você a minha bruxinha?”.


Mas, questionar essa performance do masculino e da bruxa não é apenas para o agrado dos jovens gays, cheios de hormônios, procurando desejo até mesmo no anúncio de cueca. Em O Pacto e o homoerotismo velado dos personagens existe um questionamento sobre a própria relação do corpo feminino e a bruxaria.


Antes apontada como a “mais carnal”, “insaciável” a ponto de "copular até mesmo com demônios”, o corpo da mulher foi alvo de ódio e preconceito pela igreja católica. Colocado como vilã de uma busca constante de um mal invisível. Quando o corpo masculino é colocado nesse mesmo espaço, repleto de poder desconhecido, o mesmo perde, de alguma forma, a “integridade” dele. E, numa lógica patriarcal e heteronormativa, a “maior” transgressão à masculinidade é a homossexualidade.


A sexualidade dos personagens pode não ser explorada além das garotas sem personalidade ou das piadas sobre a calcinha de desconhecidas, mas o vínculo entre os rapazes é mais forte. Tão forte que, mesmo com uma camada poderosa de símbolos heterossexuais, o filme ainda assim consegue ser tragado por uma espiral queer, sendo reivindicado e nomeado como um “queer horror”.


Mas, se essa conclusão é uma resposta sociológica e histórica ou só pelo público poder ver Sebastian Stan e Taylor Kitsch de sunga, isso já é outra história.

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