[XVII Fantaspoa] A Cabeleireira escalpa ideia em um terror decepcionante
A solitária cabeleireira Claire (Natasha Townsend) se prepara para receber sua última cliente da noite. Nesse breve encontro rotineiro, as duas trocam confidências em forma de uma conversa descontraída. "Eu adoro conhecer gente nova, é inspirador", comenta a cliente sobre seu próprio emprego. Claire concorda, dizendo "É por isso que eu trabalho com cabelos. Você consegue entrar e sair das vidas das pessoas. Você escuta histórias, dá conselhos. É quase como ter uma família." Poucos momentos depois, sem perceber que havia sido drogada, a moça apaga e Claire aproveita pra pôr suas verdadeiras intenções em prática: escalpelá-la e adicionar sua nova peruca à sua macabra coleção.
Essa é a cena de abertura de A Cabeleireira (The Stylist), mas também é o enredo do curta homônimo que o originou. Dirigido por Jill Gevargizian, o projeto passou por um longo caminho até finalmente ganhar vida em um longa-metragem, mas até mesmo sua versão de 15 minutos exibida em festivais em 2016 impressionou a galera. Afinal, quem não se atrairia por uma repaginada estilosa de Maníaco (1980)?
Vivida em ambos os formatos pela competente Najarra Townsend (se lembram dela caindo aos pedaços no perturbador Contracted?), Claire ganha um arco maior em seu próprio filme, focado na sua relação com uma cliente em especial. Olivia (Brea Grant) fica sem opções e recorre a Claire para salvar seu casamento, após sua cabeileira dar pra trás. Mesmo relutante, Claire acaba aceitando quando é contagiada pelo carisma de Olivia. Sempre sozinha, ela finalmente consegue enxergar alguém como sua amiga. Como é de esperar, ela começa a nutrir uma obsessão por Olivia, o que afeta diretamente seus distúrbios e o que ela faz para controlá-los.
Comparar A Cabeleireira com o clássico splatter não é um equívoco visto que a influência clara vai além do modus operandi da protagonista, mas também pela forma que o filme tenta explorar sua vida e até mesmo sua psique. No entanto, embora tenha um começo sólido, A Cabeleireira logo apresenta os sintomas claros que acometem grande parte dos curtas-transformados-em-filme.
Fazer essa transição é sempre uma aposta arriscada, pois de duas uma: ou você consegue elevar o seu material para algo incrível e completo, ou você o perde no processo. E o que acontece com A Cabeleireira é exatamente o segundo. À medida que a história avança com seus toques de Mulher Solteira Procura (1992), fica cada vez mais claro que o filme não sairá da zona de conforto, não importa o quanto você torça por isso.
Independente dos esforços de Townsend, que está muito boa, e da sua carismática contraparte Brea Grant (uma espécie de scream queen em ascensão no horror independente), The Stylist acaba sendo muito simplista na maneira que leva sua história, seja por se manter em um caminho muito seguro e previsível ou por não se importar em resolver furos bobos como por exemplo: o que a Claire faz com os corpos de suas vítimas?
Em seu primeiro longa, Jill Gevargizian se diverte com os visuais coloridos e estilosos que são elaborados em cena com a ajuda da direção de arte, iluminação e também figurino (eu adorei todos os looks da Claire). No seu Instagram, pode-se encontrar algumas inspirações, que vão desde Romeu+Julieta (1996) a John Wick (2014). Definitivamente vou ficar de olho em seus próximos trabalhos.
É uma pena que A Cabeleireira não atinja seu potencial, visto que mesmo com uma adaptação de 100 minutos, no fim das contas o curta-metragem parece passar a mensagem melhor. Ainda que tenha uma cena final marcante, é difícil não pensar que tudo que veio antes soa um pouco redundante e cansativo, afinal, todos já vimos essa trama de obsessão antes. Talvez algumas coisas devessem ficar no "menos é mais".
A Cabeleireira e muitos outros filmes fazem parte do XVII Fantaspoa, totalmente online e gratuito, disponível na plataforma Wurlak.
THE STYLIST
USA | 2020 | 105 minutos
Direção: Jill Gevargizian
Roteiro: Jill Gevargizian, Eric Havens, Eric Stolze
Elenco: Najarra Townsend, Brea Grant, Sarah McGuire, Davis DeRock
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