[Crítica] Seance invoca mistura de sobrenatural e slasher
Após anos sendo uma espécie de braço direito do Adam Wingard através de suas frequentes colaborações em filmes como Você é o Próximo (2011), V/H/S (2012), O Hóspede (2014) e Bruxa de Blair (2016), o roteirista Simon Barrett finalmente marca sua estreia na direção em Seance, mais um exemplar da recente ressurreição do terror adolescente — tópico este que merece um espaço próprio para discussão.
A história, situada numa exclusiva e prestigiada academia para garotas, inicia com a morte de uma das estudantes e segue com a chegada de Camille Meadows (Suki Waterhouse), nova aluna que conseguiu a vaga por causa da ausência agora permanente da vítima. Encarando um ambiente hostil encabeçado principalmente pela patotinha antipática de garotas populares da escola, Camille começa a ter ciência de uma presença ao seu redor, em especial no quarto que pertencia à falecida.
Então mortes começam a acontecer. Um dia, após uma briga, a protagonista e todas as garotas são colocadas em detenção, uma espécie de Clube dos Cinco (1985) sobrenatural no qual elas resolvem fazer uma sessão espírita para contatar uma das alunas recém-assassinadas. A partir deste ponto, o filme brinca com subgêneros do horror, visto que além do toque paranormal, temos também um flerte cada vez mais crescente com o slasher.
Há um assassino (ou assassina) nos corredores da academia, com direito à máscara sinistra e capuz preto. E isso imediatamente despertou meu interesse, já que a expectativa era de mais um terror sobrenatural bem feijão com arroz, e só. Engano, Seance não é apenas um terror sobrenatural básico, na verdade ele é um terror sobrenatural e um terror slasher bem básicos. Pena, até porque o filme não chega a ser ruim, não assim com todas as letras — só não tem identidade.
O que vemos aqui são personagens muito rasos que não conseguem sustentar a trama já frágil. Claro, estamos falando de um slasher, desenvolvimento de personagem nunca foi exatamente uma característica forte desse subgênero, mas a questão é: quando o filme em si tem problemas em acertar o ponto do ritmo no meio de uma mistureba com sobrenatural e suspense giallesco, se os personagens não são interessantes o suficientes pra te segurar, o que sobra?
Ah sim, as mortes. O que nos leva a outro problema bem curioso do filme: as cenas de assassinato são apresentadas em cortes rápidos, sempre seguidas rapidamente de uma transição para a cena seguinte, sem jamais mostrar muito do resultado fatal cometido pelo assassino mascarado em suas vítimas. O que nós, como público, poderíamos pensar disso? "Bom, deve ser um filme PG-13", foi o que eu achei pelo menos. Só que então, no terceiro ato, nos dão gargantas violentamente dilaceradas e uma cabeça decepada com direito a jatos de sangue jorrando. O que c***lhos aconteceu aqui?
É realmente curioso como nesse terceiro ato, no meio de uma reviravolta frouxa, Seance começa a mostrar um pouco mais de potencial como slasher, só que tarde demais. Suki Waterhouse, uma figurinha carimbada nesse subgênero e que também pode ser vista em produções como Amores Canibais (2016), Assassination Nation (2018) e o telefilme New Year New You (2018), até poderia emergir como uma final girl ensanguentada, mas não, e isso porque (repito) simplesmente não há identidade nesta produção.
Odiei por completo? Não, pois nem existe nada mais confortável do que ver um terrorzinho adolescente de qualidade duvidosa antes de dormir — e foi assim que conferi Seance. No meio de tanto, ainda fui surpreendido com um subplot romântico entre a protagonista e sua nova colega, o que até se converteu num ponto positivo ao somar dos dígitos. Mas infelizmente, não há substância ou marca própria suficiente para o filme resistir como algo mais do que essa nota de rodapé.
SEANCE
EUA / UK | 2021 | 92 minutos
Direção: Simon Barrett
Roteiro: Simon Barrett
Elenco: Suki Waterhouse, Madisen Beaty, Ella-Rae Smith, Inanna Sarkis, Seamus Patterson, Marina Stephenson-Kerr
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