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Foto do escritorJoão Neto

[Crítica] Skinamarink: Canção de Ninar - um chiaroscuro de pesadelos



Duas crianças acordam no meio da noite e não conseguem encontrar seus pais. Os corredores escuros da casa se tornam mais confusos. Portas mudam e somem do lugar. As únicas fontes de luz vêm de uma pequena luminária de tomada no corredor e o brilho da televisão ligada ao som de bizarros desenhos animados antigos. Uma voz sussurra das trevas: "Eu quero brincar".


Em Skinamarink: Canção de Ninar, a escuridão não é necessariamente vazia. Ela tem forma, ela preenche e sufoca. O espaço negativo se torna os pequenos pontos genialmente iluminados em cena. O granulado da estética dá uma sensação de movimento às sombras. Tem algo no corredor. Tem algo no armário. Tem algo debaixo da cama.


Quando o diretor Kyle Edward Ball começou a desenvolver o que seria seu longa de estreia, ele já tinha uma certa experiência devido ao seu canal do Youtube onde ele pedia para que os seguidores deixassem relatos de pesadelos de infância e em seguida, tentava filmá-los em pequenos curtas. É dessa gênese que Skinamarink evoca uma atmosfera ilógica de medo irracional, imagens e sons decupados sob a perspectiva e mentalidade de uma criança presa em um limbo inexplicável. A sensação é que você está revivendo um pesadelo em chiaroscuro, onde rostos não são definidos, palavras são distorcidas e não há escapatória. Resquícios de um assombroso esquecimento.



Os ângulos de câmera nunca mostram um rosto específico, sempre apontando para as linhas retas das paredes e do teto ou uma proximidade desconfortável com o próprio carpete; vislumbres de corpos resumidos à altura do joelho como se estivéssemos seguindo os personagens adultos de Tom & Jerry. Edward Bell usa uma interessante e ousada forma de narrativa onde a ação ocorre fora da tela, majoritariamente através de ruídos e falas.


A natureza experimental de Skinamarink, altamente influenciado pelo cinema arthouse, videoarte e surrealismo low-fi, o coloca como um intrigante exercício artístico, movido pelo poder da sugestão, diferente de qualquer coisa sendo feita ultimamente no horror. Ainda que ao mesmo tempo isso se prove como seu principal inimigo, afinal, ele requer, mais do que qualquer outro exemplar recente do gênero, de uma imersão muito rígida e principalmente de uma paciência que o público pode não estar muito acostumado ou disposto a conceder. Felizmente, com o alcance que o filme tomou, cinéfilos brasileiros poderão ter a chance de conferi-lo sob perfeitas circunstâncias visto que o filme estreia hoje (23 de março) em território nacional.


O irônico disso tudo é que o burburinho em torno de Skinamarink tenha surgido exatamente do... TikTok. Devido a uma falha de segurança em um festival online, o filme chegou à internet meses antes do lançamento oficial (janeiro de 2023), ganhando tração nas redes sociais com o boca-a-boca de ser um dos filmes "mais assustadores do ano". Obviamente, muitos não esperavam encontrar algo tão abstrato, o que pode colocar um público frustrado em choque com os almejos do diretor, mas também dá à Skinamarink uma presença e marketing que qualquer outro filme independente inveja.


 

SKINAMARINK

2022 | Canadá | 100 minutos

Diretor: Kyle Edward Ball

Roteiro: Kyle Edward Ball

Elenco: Lucas Paul, Dali Rose Tetreault, Ross Paul, Jaime Hill


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